quarta-feira, abril 22, 2009

Reduzir taxa não é simples como parece

Qui, 09/04/09 por Miriam Leitão

Todo mundo quer baixar os juros. Isso é importante. A economia precisa disso, mas não é simples.

O spread, ou seja, a parte dos juros que fica com os bancos, é alto demais no Brasil. Isso salta aos olhos. Mas reduzir essa taxa não é simples como parece. Imagine que, a partir de hoje, o Banco do Brasil derrube os juros fortemente. Ele vai atrair exatamente as empresas sólidas e as pessoas com bom histórico. Ele vai aumentar a competição exatamente no segmento competitivo.

Então, mesmo que isso resulte em um bom número, o banco estará oferecendo dinheiro para quem já tem crédito. Imagine que então o banco escolha emprestar para empresas e pessoas que representam mais riscos. Aí, vai estar expondo o banco a prejuízos e calotes.

O governo perdeu o melhor momento. Ele poderia ter usado os bancos públicos para derrubar o spread, mas no período de aumento da oferta do crédito no Brasil, quando a economia não estava em crise.

Agora, na melhor das hipóteses, pode derrubar a rentabilidade do Banco do Brasil, o que vai reduzir a arrecadação do próprio governo e dos acionistas privados. Esse é um problema, o Banco do Brasil é uma empresa de economia mista, uma empresa com capital aberto. Então, a decisão do controlador reduz o ganho do pequeno acionista. O spread alto trava a economia brasileira e é um problema mesmo, mas reduzi-lo é tecnicamente mais complexo do que parece.

Pressione que o preço cai

No geral, a inflação está em queda. O IPCA de março foi 0,20%. No acumulado de 12 meses, caiu para 5,6%, e vai cair mais. Até junho, o índice oficial deve estar em torno do centro da meta, em 4,5%.

Os índices que têm preços de atacado na conta, como os IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas, estão despencando. Esta semana, o IGP-DI registrou uma deflação, uma queda de preços, de 0,84%. Até o meio do ano, deve estar em 3%, podendo terminar o ano em 2%. Não resolve tudo e não acaba com a crise, mas compare: na Rússia, a economia está em recessão, e a inflação está em 14% em 12 meses e subindo.

A atitude do consumidor é certa. O preço subiu, é melhor não comprar. Ou ele tenta comprar menos, porque isso pressiona o supermercado que pressiona o fornecedor. Porque material de limpeza tem, por exemplo, petróleo na sua composição. E o petróleo caiu de preço. Então, a pressão do consumidor é fundamental nesse momento. Os preços estão caindo, todo mundo quer vender: então, pressione que o preço cai.

Fonte: http://colunas.bomdiabrasil.globo.com/miriamleitao/2009/04/09/reduzir-essa-taxa-nao-e-simples-como-parece/