quarta-feira, maio 14, 2008

Artigo: Visão dinâmica e Contabilidade

Os imensos recursos que hoje oferecem as doutrinas da Contabilidade permitem uma visão competente para orientar administrações, investidores, autoridades fiscais e judiciárias, em suma, tantos quantos necessitem entender sobre a "dinâmica dos capitais". Tal foi o progresso ocorrido que é impossível a quem não possua uma formação cultural específica interpretar a linguagem das demonstrações contábeis e até mesmo entender o que ela possa oferecer como recurso intelectual. A visão antiga, de que apenas guardar memória dos fatos e comprová-los era o bastante, ficou já há muito tempo superada no tempo. Entender o que se memoriza, reconhecer que existem fenômenos específicos a serem estudados relativos ao movimento do patrimônio, foi uma percepção que há mais de dois milênios e meio já estava despertada no Oriente e entre pensadores da antiga Grécia. Afirmou o grande pensador Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) que havia uma ciência que cuidava da riqueza dos indivíduos e que essa não era a Economia, mas, sim, um conhecimento distinto (obra "A Política"). Na antiga Índia, Kautylia, em seu famoso "Arthasastra" (300 a.C.), já evidenciava conhecimentos da área contábil e os tratava como algo específico. Consultores contábeis, ao longo do tempo, manifestaram suas opiniões e foi um deles, famoso em sua época, o precursor da construção de uma disciplinada forma de entender os registros. Refiro-me a Ângelo Pietra, que em 1586 empreendeu o passo decisivo para a edificação científica da Contabilidade, produzindo conceitos básicos. A partir das formações conceituais surgiram as Teorias, inicialmente de natureza limitada à "forma", mas, depois, no século XIX, objetivando a "essência", ou seja, o "patrimônio". A partir dos estudos que se realizaram posteriormente (já nos fins do século XVIII) a Contabilidade foi finalmente consagrada como ciência (1836) pela mais famosa entidade intelectual do mundo de seu tempo, a Academia de Ciências da França (a mesma que, entre outras, abrigou as teses de Lavoisier, pai da Química Moderna e Pasteur, pai da Microbiologia). Há, pois, cerca de dois séculos que a Contabilidade foi reconhecida como conhecimento específico de ordem superior, competente para acompanhar a dinâmica da riqueza e interpretá-la com segurança. Os estudos avançados do século XX elevaram todo o acervo do passado a um patamar expressivo e a mais moderna corrente científica, o Neopatrimonialismo Contábil, acolheu e produziu em sua doutrina um expressivo número de modelos de comportamento dinâmico da riqueza dos empreendimentos (sobre os mesmos sugiro consulta à minha obra "A Moderna Análise de Balanço ao Alcance de Todos", Editora Juruá). Os referidos modelos sustentam hoje o "Axioma" da "Prosperidade", ou seja, o grande objetivo de tornar a riqueza útil de forma constante. Tão específico tornou-se tal conhecimento que só especialistas com boa formação cultural conseguem exercê-lo em nível de análise, perícia, auditoria, custos, planejamento, controle e consultoria. Nos países desenvolvidos e em muitos "emergentes", em suas economias, os Contadores são imprescindíveis no assessoramento dos negócios e da gestão, não apenas como "informantes", mas, especialmente, como "consultores". Em minha longa carreira profissional tive ocasião de presenciar sucesso e fracasso de empresas, de acordo com a qualidade do conhecimento contábil a elas oferecido e por elas utilizado. O mau uso do conhecimento especializado ou a ausência dele tem sido responsável por um sem número de fracassos nos empreendimentos; tal fato, entendo, responsabiliza duplamente - ao usuário e ao profissional. Ou seja, os que deixam de recorrer aos especialistas, e os especialistas que não sabem socorrer são, ambos, os grandes responsáveis pela maioria dos fracassos no mundo dos negócios.

Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá CFC, 16/4/2008

Nenhum comentário: